Vemo-nos por aí...

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Fazes-me falta

Muitas vezes tenho vontade de voltar a ser pequenino. De olhar tudo em bicos de pés. De me colar em cima de uma cadeira para espreitar o mundo imenso que se estende para lá da janela. De dormir aquele sono tranquilo depois de um dia de tanta aventura. De vestir o pijama e esquecer o mundo no ecrã mágico que hoje me é praticamente indiferente. De não ter vergonha de chorar, de pedir colo ao deitar, de dar a mão para não ter medo. De ouvir uma história e adormecer...

Às vezes, muitas vezes, olho para esse miúdo que se perdeu algures, tão longe que nem sei onde, e tenho vontade de lhe dizer: fazes-me falta.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Silêncio

Mais um dia que termina. Partilho alguns suspiros com a chávena de leite quente, antes de me entregar por poucas horas ao sono que é cada vez menos tranquilo. Já não há desejos de boa noite, já não há sorrisos ao deitar, nem olhos abertos na escuridão a sonhar.
Já não te posso esperar, porque partiste no silêncio que não queres quebrar. Vou-me retirando, tranquilo como cheguei, mas às vezes, confesso, ainda olho para trás. E nada.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Nada

Pesam os olhos, quase tanto como o silêncio deste espaço vazio, mais muito menos que o vazio do teu silêncio. Absorvido, encontro bálsamo no trabalho que não acaba e vou-me perdendo nas fórmulas algébricas que estudo até altas horas. De quando em vez paro. Sinto vontade de ir à janela e espreitar a noite escura e fria. Não, não te procuro porque não queres ser encontrado. Apenas constato, tranquilo, a ignorância que às vezes tento esconder e a mais evidente certeza de que nada sei de nada.

Não me perguntes, porque nada sei
Da vida,
Nem do amor,
Nem de Deus,
Nem da morte.
Vivo,
Amo,
Acredito sem crer,
E morro, antecipadamente
Ressuscitando.
O resto são palavras
Que decorei
De tanto as ouvir.
E a palavra
É o orgulho do silêncio envergonhado.
Num tempo de ponteiros, agendado,
Sem nada perguntar,
Vê, sem tempo, o que vês
Acontecer.
E na minha mudez
Aprende a adivinhar
O que de mim não possas entender.
(Confidencial, Miguel Torga, 1992)

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Silêncio pesado

Cansado, antes de abandonar a secretaria cheia de papéis e, finalmente, recolher ao aconchego de um lar frio e vazio, não resisto a partilhar contigo, leitor atento e talvez também cansado, o excerto de uma carta de Eça de Queiroz. De uma maneira simples e bonita ele desabafa aquilo que muitas vezes sinto e que, por imperfeição minha, não conseguiria escrever tão suavemente. Parece que também ele percebeu como o silêncio pesa. Pesa muito.

“É hoje o terceiro dia em que não tenho carta sua (...) eu fico inquieto, e singularmente desconsolado, quando vejo passarem assim os dias vazios e silenciosos. O recurso a ler cartas velhas não é talvez suficiente: se elas fossem um verdadeiro depósito, uma mina de coisas intimamente carinhosas e amantes – eu poderia consolar-me drawing upon them. Mas não são. A pequena quantidade de loving tenderness que contêm gasto-a, e gasta-se toda logo no primeiro dia, na primeira hora; e o coração fica depois sem ter mais com que se alimentar. (...) Mas não é singularmente desapontante, e contrariante e entristecente, o esperar uma palavra e ela não vir. Depois esse silêncio tem outro inconveniente – é que a gente não pode resistir a queixar-se, a resmungar: e assim se gasta o tempo (...) com queixumes, -em lugar de o encher com as coisas que se tinha a dizer, e que é desagradável deixar de dizer... Assim, aqui estou eu, a escrever-lhe, só a queixar-me, quando sinto tantas outras coisas que escrever...”
(A Emília de Castro, London, 23 de Outubro, 1885)

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Porta(s)

Há sempre muitas leituras. Fazemos sempre muitas leituras. Tentamos fazer muitas leituras. Vamos fugindo às evidências de ver a porta fechar e, como outras vezes, ficar de fora, sentados no degrau da escada com vontade de chorar. A espaços vamos olhando para trás, esperando que a porta se abra novamente. Não abre, quase nunca abre.
Resta-nos, depois de algumas lágrimas que escondemos com a cabeça entre os joelhos, olhar para a frente, para a rua. Sempre se resiste a descer o degrau da porta. Sempre se espera que chegue a abrir de novo. Às vezes, muitas vezes até, não resistimos a bater. E batemos com força. Nada, já não é um porta. Entre as lágrimas e as esperanças a porta tornou-se muro e, para sempre, intransponível.
Há sempre muitas leituras. Fazemos sempre muitas leituras. Tentamos fazer muitas leituras. Fechou-se uma porta, talvez outra se tenha aberto. Talvez na mesma rua ou noutro qualquer canto do mundo. Basta descer o degrau, deitar um último olhar para o muro, deixar espaçar um sorriso de tranquilidade, e perder-mo-nos novamente por aí. Afinal, onde andas tu senão por aí?


Bateu a porta!

Ao fechar, ouviu-se
o eco do tempo,
em que pela porta aberta
corria desperta
a alegria de outro vento.

Nessa batida forte,
que ainda escuto ao deitar,
choro a certeza,
de a teres sido tu a fechar,
com rude leveza.

Abre-te Sésamo para sempre
e torna eterno o presente,
ou mata de vez a esperança
de dançar a mesma dança.


segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Ilusões


Ilusões distorcidas,
diluídas,
disfarçadas,
escondidas na aparência
de outra cadência
também ela fugida,
tingida,
aqui e ali,
de verdade...