Vemo-nos por aí...

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Rectângulo mágico

Posso procurar-te nas estrelas, na lua cheia, no pôr ou no nascer do sol. Posso buscar-te nas paisagens a perder de vista, no mar imenso, em desertos sem fim. Posso inventar-te na noite escura, no frio da chuva, no calor do verão. Posso descobrir-te na página de um livro, numa tela esquecida, numa música já gasta. Posso sentir-te em mil cheiros diferentes, em tantos lugares estranhos, em pequenos sorrisos e olhares. E mesmo sabendo a pouco, posso já tanto. Ainda assim, no meu pequeno espaço, refugio dos meus sentidos, perco-me naquele rectângulo mágico onde não te preciso imaginar. Ali, sentado, sorris para mim e apenas tenho, no olhar parvo que procuro disfarçar, que te retribuir.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Leva-me contigo

Ainda que cá e lá sejam as mesmas estrelas, que o sol seja o mesmo, que a lua seja a mesma. Ainda que noite seja a mesma, que o dia seja o mesmo, que o céu seja também o mesmo. Ainda que fale contigo, que leia o que escreves, que te possa até ver. Ainda que conte os dias para o teu regresso, que saiba que voltas, que te espere por cá. Ainda que saiba que estás bem e que te veja sorrir. Ainda assim ou mesmo assim, leva-me contigo...

domingo, 27 de julho de 2008

Canto (para ti)

Fugindo um pouco ao registo mais ou menos filosofante que vou imprimindo ao discurso, verdadeiro refúgio dos que permanecem na sombra, opto hoje por um tom mais próximo (de ti). Não te podendo sentir, não te podendo tocar, não sabendo sequer se é legítimo ou não esboçar tantos sorrisos, faço coro com todos eles e canto para ti esperando que me ouças.

terça-feira, 22 de julho de 2008

O que será que será?

Para quê dar nome ao sorriso rasgado, ao brilho nos olhos, à pele arrepiada, ao humor contagiante, a tanta boa disposição? Para quê dar nome aos sussurros, às palavras trocadas, aos suspiros que escapam? Para quê dar nome ao que pulsa, batida audível que se escuta? Para quê dar nome ao céu mais azul, à lua sempre cheia mesmo nova, às estrelas cadentes, às noite quentes? Para quê? Não é tudo isto suficiente para que se esqueçam os nomes?

domingo, 20 de julho de 2008

Cinética

Não sei. Não sei para que lado gira a Terra. Não sei sequer se gira ou parou num qualquer ponto de um espaço de solidão. A brisa que me lava o rosto será apenas ilusão, a minha ilusão de movimento. Será apenas o movimento cinético do que quero sentir, da minha vontade de te abraçar e de conjugar contigo, um dia, a forma plural do verbo amar.
Ilusão cinética, nada mais. No horizonte ecoa apenas a minha voz, declamando, sem resposta, o poema que te escrevo...

sábado, 19 de julho de 2008

Amarelo

E se já tivesses cor e forma e rosto e cheiro. Sim, se já tivesses isso tudo e sorriso e olhar e toque e respiração e bater do coração. Se já tivesses tudo isso, se já fores tudo isso, não mais te inventarei. Basta-me agora fechar os olhos e ver-te reflectido nesse mundo que, a medo, vou criando. Imaginar-te muitas vezes, esperar-te novamente e acreditar que aos poucos alguma coisa vai crescendo. 
Neste entretanto vou esboçando uma poesia de ti e, no traço de grafite inseguro, guardo-te para não mais te perder. No bocadinho de papel que um dia será teu, não há receios nem angústias porque ali sou eu que te desenho e te prendo. Fora isso, procuro os passos pequenos para não cair, antevendo já um abismo sempre possível. Vou derivando assim entre o risco de quem te quer e a o medo de nunca te ter. E porque estes dois mundos são todo o universo, acabarei de algum forma envolvido. Não sendo mais, serás sempre poesia, poesia que escrevo de ti.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Ad aeternum filius mihi

Há dias em que nada precisamos dizer, em que a música, absorvente, fala por nós e nos diz, em brados de surda melancolia, que o lugar continua a ser em esse ermo solitário em Para-lá-do-mundo. Assim seja.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Hesitações

Assusta-me que o céu esteja mais azul, que o sol brilhe mais, que a lua me volte a falar, que as noites pareçam mais quentes. Assusta-me que o tempo tenha nova cadência, que as páginas dos livros ganhem novo sentido, que o café tenha um novo sabor. Assusta-me sentir-me levitar nessa infinitude de sonhos. Assusta-me até o ligeiro brilho do olhar que pressinto reflectido no espelho, prenuncio de te encontrar.
O temor de uma nova ilusão, de novo abismo de desencontro, de um apeadeiro vazio, de uma espera sem fim, de um caminho sem saída, vão-me prendendo no meu cárcere voluntário. Hesito entre a volúpia de arriscar, essa sensação de tudo poder, e segurança dos dias de banal tranquilidade.
Nesse balanço entre uma e outra, procuro perceber, se os houver, sinais de ti. Serão ilusão? Será a vontade tão forte de os ler? Muito provavelmente...

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Apetece-me

Apetece-me olhar-te,
adivinhar-te.
Apetece-me ouvir-te,
escutar-te.
Apetece-me tocar-te,
sentir-te.
Apetece-me gritar ao mundo
num gemido profundo
o quanto te quero amar

Apetece-me partir,
voar.
Apetece-me sorrir,
cantar.
Escrever nas paredes das ruas,
onde dançam imagens tuas,
letrinhas de encantar,
grafismos do verbo amar.

Apetece-me chorar,
sozinho.
Apetece-me susurrar,
baixinho.
Apetece-me esconder
entre os lençóis de vento
o forte desalento
de não te encontrar.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Meninices

Recorrente a desculpa dos longos silêncios. Parece ter-se perdido a cadência da escrita com o sossego dessa batida descompassada que, ainda pensei, valesse a pena
Perco-me agora nas quase-poesias onde te desenho e reinvento. Nasces e vives nessa folha de papel, porto seguro em que sempre te encontro. Seguimos juntos nesse rasto de grafite negro, esboço impressivo de um mundo imaginário que partilhamos.
Colecciono agora versos soltos, como antes juntava as moedas pequeninas, tesouro encantado com que sonhava poder comprar todo o universo. Hoje, sob o signo de outras luas, sonho ainda acordado. Já não quero comprar o universo todo e seria até capaz de dispensar o mundo. Daquele tempo, apenas o brilhozinho nos olhos de quem ainda, confundindo o mealheiro pesado de nada com versos cheios de ti, espera esse dia...