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terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Silêncio pesado

Cansado, antes de abandonar a secretaria cheia de papéis e, finalmente, recolher ao aconchego de um lar frio e vazio, não resisto a partilhar contigo, leitor atento e talvez também cansado, o excerto de uma carta de Eça de Queiroz. De uma maneira simples e bonita ele desabafa aquilo que muitas vezes sinto e que, por imperfeição minha, não conseguiria escrever tão suavemente. Parece que também ele percebeu como o silêncio pesa. Pesa muito.

“É hoje o terceiro dia em que não tenho carta sua (...) eu fico inquieto, e singularmente desconsolado, quando vejo passarem assim os dias vazios e silenciosos. O recurso a ler cartas velhas não é talvez suficiente: se elas fossem um verdadeiro depósito, uma mina de coisas intimamente carinhosas e amantes – eu poderia consolar-me drawing upon them. Mas não são. A pequena quantidade de loving tenderness que contêm gasto-a, e gasta-se toda logo no primeiro dia, na primeira hora; e o coração fica depois sem ter mais com que se alimentar. (...) Mas não é singularmente desapontante, e contrariante e entristecente, o esperar uma palavra e ela não vir. Depois esse silêncio tem outro inconveniente – é que a gente não pode resistir a queixar-se, a resmungar: e assim se gasta o tempo (...) com queixumes, -em lugar de o encher com as coisas que se tinha a dizer, e que é desagradável deixar de dizer... Assim, aqui estou eu, a escrever-lhe, só a queixar-me, quando sinto tantas outras coisas que escrever...”
(A Emília de Castro, London, 23 de Outubro, 1885)

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