Vemo-nos por aí...

domingo, 18 de agosto de 2013

Há dias em que não apetece dizer nada. Há dias em que a clareza das coisas nos torna mais frágeis, mais débeis. Apenas o tempo, o verdadeiro ópio do mundo, nos dá uma noção de equilíbrio. Tudo o mais parecem retalhos, histórias que nem nos apercebemos como começam e das quais raramente, muito raramente, escrevemos o fim. Às vezes, por uma vez, era tão bom mudar o fim. 
No frio da noite, sentado na clareira mais inóspita desta montanha quase sagrada, sob o luar que cresce e se agiganta, ouço, ensurdecedor o grito do serafim e transformo-me, por instantesou não, numa espécie de sombra escura e negra. Talvez não seja mais que isso. Percorro o tempo da memória, a cristalização de tantos momentos. Só as lágrimas não cristalizam, mas secam. Vamos ficando frios e petrificados. O olhar cada vez mais negro e o mundo, esse, cada vez mais distante. 
Hoje não há formalismos nem pruridos. O texto não é poético nem fluido, fragamentado como a vida e as emoções. Não há seguimento, como as histórias também não têm. Apenas fugaz, frenético, desconexo. Nem sempre temos que respeitar as regras. Nem sempre temos que seguir as regras, nem sempre temos de ser as regras. Anarquia. 
Estava frio, muito frio. Milhares de pessoas em silêncio a ouvir o mesmo grito. Trocamos olhares e sorrimos baixinho. Cheirava a erva e a mundo. Senti-te perto, muito perto. Começaste a partir.