Vemo-nos por aí...

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Nada

Pesam os olhos, quase tanto como o silêncio deste espaço vazio, mais muito menos que o vazio do teu silêncio. Absorvido, encontro bálsamo no trabalho que não acaba e vou-me perdendo nas fórmulas algébricas que estudo até altas horas. De quando em vez paro. Sinto vontade de ir à janela e espreitar a noite escura e fria. Não, não te procuro porque não queres ser encontrado. Apenas constato, tranquilo, a ignorância que às vezes tento esconder e a mais evidente certeza de que nada sei de nada.

Não me perguntes, porque nada sei
Da vida,
Nem do amor,
Nem de Deus,
Nem da morte.
Vivo,
Amo,
Acredito sem crer,
E morro, antecipadamente
Ressuscitando.
O resto são palavras
Que decorei
De tanto as ouvir.
E a palavra
É o orgulho do silêncio envergonhado.
Num tempo de ponteiros, agendado,
Sem nada perguntar,
Vê, sem tempo, o que vês
Acontecer.
E na minha mudez
Aprende a adivinhar
O que de mim não possas entender.
(Confidencial, Miguel Torga, 1992)

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