"E depois pensei para comigo: "Sabes, o que eles pensam de ti é tão fantástico que te é impossível corresponder e nem tens disso obrigação!" Era uma ideia brilhante: não temos obrigação de corresponder ao que os outros esperam de nós. É um erro deles, e não uma falha nossa."
Para-lá-do-mundo, perdido na página 170 das histórias do amigo Richard, em "Está a brincar Sr. Feynman!".
Ah, o mundo, o mundo! Essa coisa que todos dizem ser redonda, circular, fazendo-me crer que as partidas têm sempre retorno. Que às montanhas se seguem as montanhas, e depois planícies imensas que desaguam num qualquer mar. Fazem-me crer que os mares se transpõem, onda a onda, e que seguindo em frente se torna ao ponte partida.
Ah, o mundo, o mundo! Essa coisa que todos dizem ser assim, fazendo-me crer que não é possível fazer diferente. Que as utopias são apenas literárias, sonhos e divagações, exercícios de reflexão inconsequentes. Fazem-me crer que o esforço é inglório e que a verticalidade é o refúgio dos fracos.
Ah, o mundo, o mundo! Essa coisa que todos dizem passageira, fazendo-me crer que o carpe diem é a inconsequente fruição dos sentidos. Que o hedonismo é a coroa do sucesso e da conquista. Fazem-me crer que não é possível cumprir Galeano e ligar o cérebro às tripas, esse ideal grego de corpo e mente.
Ah, o mundo, o mundo! Essa coisa que todos dizem ser de ninguém, fazendo-me crer que não o posso também reclamar como meu. Que ser inconformado é ser reaccionário e estar incomodado é medo do futuro. Fazem-me crer devo seguir o rebanho, e sentir o conforto da maioria.
Não acredito. Não acredito. Não acredito. Não acredito. Não acredito.
Presunção minha achar que chegaste. Achar que leste. Presunção minha achar que vale a pena. Nestas deambulações, nada mais te peço que a simpática benevolência que a imperfeição pressupõe e que a compreensão não dispensa . E apenas te pergunto, porque vieste?