Vemo-nos por aí...

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Anno Domini

Tudo é um ciclo que termina. Tudo é um ciclo que começa. Tudo é apenas regresso, retorno ao ponto em que sempre nos perdemos. Tudo é partida, desejo de um ideal que parece não se alcançar. Tudo é uma busca incessante, passos largos em direcção ao desconhecido que se quer abraçar. Tudo é a aventura que se quer experimentar, fé quixotesca de não desistir. Tudo é o receio de perder, esse conforto de não arriscar.

Tudo são os balanços que sempre fazemos, retrospectivas de vidas que ainda não vivemos, de sentimentos que ainda não sentimos, de emoções que ainda não experimentamos. Tudo são projectos que queremos abraçar, desejo eterno de chegar.

Sentado neste pedaço de praia, ritual de anos que vou mantendo, encosto a cabeça aos joelhos, como se me protegesse de uma humanidade que tantas vezes me abafa. No som forte do mar agitado ouço as lembranças de mais um ciclo, os ecos do que passou e o silêncio do que poderia ter acontecido. Contemplo esse infinito onde aprendi a esconder o olhar, onde com facilidade me perco para me encontrar. Não evito um sorriso nem as imagens que o fazem nascer. Nele se esboça a esperança do
Anno Domini que tudo mudará.

Sempre renasce a certeza do ponto zero, partida para nunca mais voltar, caminho eterno do amor que se quer trilhar, abraço final para não mais não largar.

E tudo és Tu. Tu que há muito imagino, que vou construindo e destruindo a cada momento. Tu que muitas vezes pensei ter encontrado e outras tantas percebi nunca ter tocado . Tu que andas por aí, onde acredito ainda que te posso encontrar.



sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Doidices

Tudo se transforma de repente. Muitas vezes é preciso tão pouco para um sorriso, essa coisa que se rasga sem dificuldade e que torna o mundo mais colorido. Até mesmo um dia soalheiro de inverno se transforma numa primavera impressionante. Ou talvez nem seja nada disso e, apesar das poucas horas de sono, das olheiras, do cansaço do trabalho, simplesmente aquela sensação de imortalidade vá regressando. Sim, de imortalidade, aquela que muitas vezes reclamo e que torna tudo eterno, eterno num segundo.
Rio de mim próprio e pergunto, afinal, para quê tanta prosa e subterfúgio de linguagem? Porque não dizer que às vezes umas doidices sabem tão bem e nos fazem sentir aquela “insustentável leveza do ser”, tão simples e tranquila, do livro do Kundera. Aquela energia estúpida, quase non-sense de tão física que é.
E nestas pequenas transformações, até uma musica antiga nos pode parecer agora muito mais intimista. Neste ritmo “bem bom” tenho vontade de me encostar na cadeira, colocar as mãos atrás da cabeça e deixar escapar um sorriso não menos matreiro que olhar. Há coisas que não se explicam, nem precisam...


quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Talvez também Tu

Porque não acreditar que andas por aí? Que te escondes do mesmo mundo e que os medos que tens são também os meus? Que choras as mesmas lágrimas de desilusão? Que sorris às mesmas coisas simples? Que buscas encontrar onde te perder? Que te perdes na procura que parece não ter fim? Que olhas timidamente para os outros e que também é teu o medo de arriscar? Que suspiras e sentes a mesma batida forte quando sonhas? Que esse sonho ainda te parece tangível, ponto único onde tudo se encontra e ganha sentido?

Talvez também Tu colecciones os gestos e as surpresas que queres fazer, os sorrisos e os abraços que pensas dar, os olhares que queres trocar, as lágrimas que queres ver cair, as conversas que queres ter, tantos e tantos momentos que queres partilhar.  

Talvez também Tu queiras ficar acordado até tarde, com o braço sobre os ombros, a olhar para a lareira ou, numa noite de verão, ficar deitado nas dunas da praia a ouvir o mar. Talvez também Tu esperes ter saudades, queiras sentir vontade de ouvir aquela voz a meio da noite, de mandar um sinal, de dizer baixinho, entre um beijo, a palavra mágica.

Talvez Te encontre por aí...



terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Uma última dança

Há sempre uma última dança, mais uma última dança em que se espera a magia dessas coisas simples do amor. Essa troca de olhares, aquele toque das mãos, os sorrisos cúmplices, uns suspiros combinados, lábios molhados.
Talvez por isso não se perca o sorriso que a esperança rasga, essa expectativa de, após outra curva de desilusão, ver surgir a paisagem idílica, essa Terra do Nunca para sempre.
Enquanto e não, os amigos, maratonistas incansáveis, vão estando atentos aos sinais. E se não choram contigo é porque esperam obrigar-te a sorrir e então sim, choram por te ver sorrir, te ver finalmente alcançar a meta e principiar um novo percurso, a dois.
Mesmo assim, não termina para eles a maratona. Continuam, ao lado, correndo em trajectos paralelos que, muitas vezes, apenas se cruzarão quando, por momentos, sentires que perdeste a tua metade.
A esses maratonistas cuja meta é no inicio e não no fim, no início da amizade que não acaba, o tributo que nunca aqui tinha feito. A certeza de que também sobre eles paira a minha sombra discreta, mas segura.
Na Terra do Nunca todos voaremos à altura dos nossos sonhos e a última dança será sempre a próxima.


segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Silêncio(s)

Porque também há dias em que nada nos apetece dizer. Porque muitas vezes a angústia se apodera de nós, apesar de continuarmos a sorrir para um mundo que não nos permite mostrar fraqueza. Porque nem sempre falar ajuda alguma coisa. Porque o olhar perdido no fogo da lareira já diz afinal tanto. Porque no silêncio vou encontrando a tranquilidade e a segurança que aos poucos me vai escapando.  Porque, apesar de tudo, eu sou a minha própria certeza, a mais constante presença que vou sentido. Porque, a custo, ainda me vou bastando. Até quando, é o que ainda me pergunto.