Vemo-nos por aí...

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Xiu..

No silêncio desta noite escura, sob o estrelado céu deste Portugal profundo em que me refugiei estes dias, ouço as palavras de Torga e, com elas, penso em ti que, mesmo com esforço, continuas sem rosto.Talvez seja da escuridão, espero. Ainda assim, sorrio, porque não?


No silêncio da noite é que eu te falo
Como através dum ralo
De confissão.
Auscultadores impessoais e atentos,
Os teus ouvidos são
Ermos abertos para os meus tormentos.

Sem saber o teu nome e sem te ver
- Juiz que ninguém pode corromper -,
Murmoro-te os meus versos, os pecados,
Penitente e seguro
De que serás um búzio do futuro,
Se os poemas me forem perdoados.


(Torga, A um secreto leitor, 1951)

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