Vemo-nos por aí...

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Amplitudes térmicas

Aproxima-se a estação estival. O sol brilha agora mais alto e o calor vai-se espraiando por aí. A natureza desponta em toda a sua força e, com ela, as pessoas abrem-se em sorrisos sem intenção. Procuro também sorrir e desço agora mais vezes do alto da minha torre. Abandono o meu cárcere voluntário das horas banais, onde antes me prendia solidariamente, e percorro essas ruas aquecidas pela boa disposição que toda a gente sente nesta época. Procuro deixar-me contagiar, aquecer-me nesse quente que não é meu. Continuo a sentir a mão fria e as diferenças de temperatura tornam-se cada vez evidentes.
Tento enganar-me e dispo o agasalho que me protege, essa sobrepeliz da tranquila bonomia de quem nada parece procurar. Inocente, chego a acreditar na minha própria mentira e, por breves momentos, ensaio um desses tais sorrisos sem intenção. Ilusão. Quando entrar no meu pequeno mundo, essa esfera em que habito e me perco, aquela sobrepeliz tornar-se-á inútil e terei que procurar novamente agasalho para o frio.

2 comentários:

Anónimo disse...

É gelado o lugar onde todas as coisas se viram do avesso. Talvez necessário.

Quero-te agradecer a dedicatória lá atrás, embora me pareça que estás a pensar que sou outra pessoa. Vim parar aqui por acaso...

Quasimodo disse...

Talvez seja necessário. De facto, só existe o quente por oposição ao frio e as amplitudes térmicas tornam essa distinção possível. Esta questão leva-me a uma das minhas crenças centrais e que encontra eco nas mais antigas teorias da filosofia: as dualidades. Há muito que ando para escrever sobre o assunto. Aliás, a origem do conceito de amor ancora na existência de dualidades que procuram a união.

Não tens que agradecer a dedicatória. Espero que tenhas apreciado o poema e que continues a aparecer.