Vemo-nos por aí...

domingo, 16 de março de 2008

Para vós...

Olho novamente o mundo com os olhos cautos, regressado que sou à velha poltrona de quase-sábio, esse trono sagrado do absoluto relativo, da distância cultivada, da benignidade genuína. Esse magistério do milenário de longos cabelos brancos e sabidos conselhos.
Encontro-me de novo nesse ponto alto, nesse tecto do mundo, e tenho em mim toda a humanidade. O vento leva-me a capa e impõe a imagem serenamente austera onde sempre me senti confortavelmente protegido. Com gestos elegantes cumprimento o mundo e abençoo o infinito. Essa realidade quase sempre intangível, mas palpável uma vez descoberto o segredo. O secreto segredo do sorriso perdido, da lágrima caída, do olhar fixo, do beijo demorado, do suspiro largado, do coração alvoroçado. Tudo isso que transforma o cinzento em soalheiro, o exíguo em imensidão, a singela flor na beleza rara, a andorinha na primavera e, vejo-o daqui, a impossível certeza na mais concreta verdade.
Sinto-vos a todos e, na apoteose do meu silêncio, ergo as mãos e amplio Ágaphe, solto Eros e faço ressonância exponencial de todos esses sorrisos que chegam ao cimo da minha torre. Permaneço na sombra, de onde, como se sabe, se vê melhor a luz, olhando por vós…

Ao trono alto do meu mundo
em bailados de encantar
chegam risos de amor profundo
chegam sonhos no ar
e alegrias
e suspiros
e olhares
e saudades,
corolários de amar

Vêm aos pares,
eternas medusas
translúcidas
perdidas noutros mares.

Ordeno a Zéfiro que se levante
na sua força plena
e vos deixe flutuar
Ordeno à musa que cante
a melodia serena
de amar…


Dissolvido no pó da ampulheta, não tenho tempo nem espaço. Genuinamente, sorrio com todos vós, humanos que amais. Também eu um dia o ousei ser. Ab imo pectore.

5 comentários:

Anónimo disse...

Nem sei que diga. Não digo nada. Como estás numa torre e eu em baixo não sei quem és. Mas pá digo-te não pares de escrever. Brutal o poema!

Anónimo disse...

Escreves bem, sim. Mas cuidado com as quedas.

Quasimodo disse...

Primeiro leitor anónimo, agradeço as palavras simpáticas. No entanto, tenho que dizer que estes pequenos textos são apenas exercícios de humildade. E não é modéstia minha, de todo, apenas bom senso...

Quasimodo disse...

Segundo leitor, quase anónimo, agradeço a cortesia, mas renovo as palavras que deixei a cima. É apenas um exercício de humildade. A segunda observação é claramente um desafio a uma resposta mais elaborado. Direi, por ora, que a pressuposição de "quedas" é uma falácia, pelo menos na forma como colocas a questão.

Quasimodo disse...

* No comentário anterior há uma pequena gralha em "a cima". Deveria estar "acima".