Vemo-nos por aí...

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Que mais poderei dizer?

Sinto às vezes o cansaço da tal solidária solidão que, ainda um dia destes, partilhei contigo. Acuso no olhar profundo a espera paciente de quem sabe (quero ainda acreditar) que virás um dia. Por enquanto, vou-me dando aos lirismos da alma e voando contigo nos espaços que habitas.
Que mais poderei eu dizer? Que entre a dúvida de amar e o medo de sofrer continuo a preferir a primeira, mas pareço irremediavelmente condenado à segunda. Entre uma e outra, recordo as palavras que um dia ouvi ao amigo Pessoa, “o amor é um misticismo que quer praticar-se, uma impossibilidade que só é sonhada como devendo ser realizada”.
Talvez tu também o sintas embora, tenho que reconhecer, não na mesma direcção. Ainda assim, porque as horas de convívio começam já a perder-se no tempo e a intimidade da partilha vai permitindo estas ousadias, deixo-te aqui o que me disse em tempos o amigo Pessoa.

O amor pede identidade com diferença, o que é impossível já na lógica, quanto mais no mundo. O amor quer possuir, quer tornar seu o que tem de ficar fora para ele saber que se torna seu e não é. Amar é entregar-se. Quanto maior a entrega, maior o amor. Mas a entrega total entrega também a consciência do outro. O amor maior é por isso a morte, ou o esquecimento, ou a renúncia - os amores todos que são os absurdiandos do amor.
(...) O amor quer a posse, mas não sabe o que é a posse. Se eu não sou meu, como serei teu, ou tu minha? Se não possuo o meu próprio ser, como possuirei um ser alheio? Se sou já diferente daquele de quem sou idêntico, como serei idêntico daquele de quem sou diferente? O amor é um misticismo que quer praticar-se, uma impossibilidade que só é sonhada como devendo ser realizada.
(in 'O Rio da Posse')

Que mais poderei eu dizer? Que sinto tudo de mais…

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