Vemo-nos por aí...

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Espaço vazio

Há dias em que tudo parece parado. Nada parece sair da ponta da caneta, habituada já aos riscos abruptos de quem se arrepende do que escreveu. Procuro mais uma vez a inspiração nas fontes do costume. Impossível. Não há estrelas, não à Lua, o Sol anda escondido e nem a chuva é a sério. Apenas este cinzento da cor da minha alma que me torna quase invisível.
Sinto apenas o coração bater e, de mansinho, procuro a inspiração em ti. Em ti que te afastas a cada dia mesmo que nunca tenhas estado próximo. Impossível também. Foges esguio quando te lanço um olhar vivo. Ignoras quando te falo, limitando-te aos convencionalismos da simpatia e da educação. Como sabe a pouco…
Vejo-me novamente sozinho, eu que não deixei nunca de o estar. Hesitante entre a dúvida e a certeza de um não, preferi continuar a sonhar contigo. Como sempre, tive vontade de te dizer que estava ali, a pensar em ti. Pensei até no que escrever e sabia-te ainda acordado. Contive-me. Debati-me entre um sentimento que aos poucos vai despontando e a parte mais racional que sempre me domina. Há quem lhe chame outra coisa! A razão condenou a emoção a alguns suspiros e algumas lágrimas contidas que teimosamente segurei. Olhei pela janela. Começava a chover. A música do meu pequeno mundo tocava baixinho, sem fazer muitas perguntas.
Nada soube de ti também. Acordado, imaginei-te também a olhar pela janela. Ouvi alguns suspiros e percebi esse olhar perdido. Nada te perguntei, nada me disseste. E nesse espaço vazio que entre nós se vai cavando, contra o qual luto discretamente, percebi por quem vigiavas. Reduzi-me à minha insignificância e pus a música mais alto para não me ouvir.

2 comentários:

Anónimo disse...

Há dias. Dias em que a infame certeza da dúvida se transforma na incerteza de todos os males. Dias em que o mundo reza em sinfonia com um desespero vão.
Não existem estrelas? Existem. Estão para lá do mundo e ofuscam a escuridão.
Não existe Lua? Existe. Persegue a Terra, mesmo estando perdida no eterno vazio da razão.
E o Sol brilha. Mesmo quando envolvido em brumas de desencanto.
E ainda que a chuva chore, que relâmpagos gritem, que o mundo desabe, o Sol brilha. Brilha como uma vela que bruxuleia. Firme, mas incerta, no meio da escuridão.
E a luz não veio ao mundo para zombar das trevas, mas sim para iluminá-las...

Quasimodo disse...

Bem possível que o sol brilhe, que as estrelas existam, que a lua não se afaste da Terra. Mas como diria o grande filósofo George Berkeley, as coisas só existem quando percebidas. Hoje não sei de lua, nem sol, nem de estrelas. Espero num amanhã próximo tocar-lhes...