Vemo-nos por aí...

quinta-feira, 1 de março de 2012

Fénix


[1º Acompanhamento. Lê e escuta!]



Com o dobrar dos sinos curva-se a alma, dobra-se o corpo numa recapitulação quase ontogénica, prima matter dos mais puros sentidos. Com o dobrar dos sinos há ecos imensos, reverberações de memórias futuras da filogenia. Com o dobrar dos sinos outro silêncio irrompe, impondo-nos a postura da sábia serenidade do fim do caminho. Com o dobrar dos sinos, correm as lágrimas, abafam-se os suspiros, e o mar, ainda que tremendo, não deixa de ritmar.

[2º Acompanhamento]




[00:00s] No fim do caminho a música começa suave. É a nova aurora, a certeza de que o desconhecido vale a pena, de que os moinhos podem ser gigantes e as mouras encantadas. No fim do caminho o olhar não vacila, não descai, as lágrimas não turvam.

[01:00s] E começas de novo, num novo estrondo. Dies iræ, dies illa,
Solvet sæclum in favilla. Deixas a raiva correr em gritos mudos, surdinas que só tu podes calar. Abafas as tormentas nas águas gélidas desse mar que te chama. Agrides-te impiedosamente na tua própria vergasta. Sofres com o teu próprio sofrimento. Mergulhas de cabeça até te acabar o fôlego. Frio, gelado, apagas furiosamente o mundo que não é teu, que não queres, de que podes sem mágoa despir-te

[02:54s] Agora sim, em desespero procuras a tona da água, ofegando e rindo-chorando uma nova liberdade. Lavas de ti próprio o mundo, levas-te de milhares d’Eus que recusas, fantasmas que te cadaverizam o olhar. Gritas a esse espelho do mar que se eleva no horizonte e parece, por cima, regressar. Salva me, fons pietatis!

[05:00s] E leve, sem pressa, avanças novamente, regressando ao mesmo ponto onde dobravam os sinos. Até podes olhar para trás. Não há mágoa, não há dor, nem dúvida. Apenas repouso. Dona eis requiem.

1 comentário:

Anónimo disse...

Inexcedível menino! Como quase tudo em ti...