Vemo-nos por aí...

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Para-lá-do-mundo, sempre...

Tem sido longo o silêncio em Para-lá-do-mundo. Talvez o mais longo silêncio desde que aqui me escondi. Não que não continue a espreitar o mundo e a sorrir com o que vejo. Não que não me sinta capaz de sair e caminhar por aí, à toa. Não que não seja capaz de dizer o mesmo bom dia à velhinha da esquina. Não que não tenha o que contar e partilhar. Não que os sussurros não sejam muitos, que o brilho nos olhos não seja intenso, que as reflexões não continuem a ser constantes, quase um estado de alma ininterrupto de que não me vejo livre. Não que não te tenha a ti para desabafar, para ouvir essas coisas mágicas que dizes baixinho, para sorrir contigo. Não que não te possa imaginar a cada instante, de fazer milhares de planos e de contar os dias para te ver, fazendo risquinhos na parede. Não que não existam histórias com beijos e olhares e olhares com muitas histórias e beijos. Não que não exista esse abraço forte e sentido onde me gosto de perder e sonhar, procurando as estrelas que apenas nós vemos.

Não, não é por tudo isto que o maior silêncio de Para-lá-do-mundo se faz sentir. Não é por isso que as palavras custam a sair e o discurso parece perder a fluidez. Também não é por isso que as últimas reflexões que aqui tentei se mostraram banais e desinteressantes. Nem é tão pouco por isso que ultimamente fui perdendo o traço poético que traz ao texto um ritmo de tranquila banalidade.

Não, nada disso. Apenas razões estupidamente terrenas tornam Para-lá-do-mundo um ermo de silêncio. Como se este lugar mágico de onde se pode espreitar o mundo se tivesse deixado invadir por essas questões menores dos humanos.

Invadido por questões menores da sobrevivência. Essas coisas a que uns chamam trabalho árduo e saúde física. Sempre achei que não havia ligação entre eles, e que era mito o que por aí se dizia. Parece que não! Parece que o trabalho árduo dos últimos tempos, esse tudo querer fazer, fragilizaram um pouco este boneco de trapos que continua a insistir em acordar cedo e sorrir para o mundo. Alguns dias de cama e de forçado repouso parecem reforçar o mito mas, ainda assim, tudo voltará ao normal e continuarei o mais absoluto dos descrentes.

No fim das contas, apenas algumas reflexões que me inquietam e me inquietaram sempre. Afinal, porque insisto em tomar o leme às lutas que não são minhas, mas de uma massa mais ou menos anónima e indiferente? Afinal, porque levar o esforço aos limites para construir a utopia, se o caminho é quase sempre solitário e áspero? Para quê entrar em confrontos, e fazer valer pontos de vista nessas mesas redondas da ilusão democrática, tentando representar um mundo que talvez já nem exista ou queira existir? Para quê insistir nesse custo pessoal que os amigos notam no cansaço se o mundo parece tão tranquilo?

Talvez porque eu já saiba a resposta, essa mesma que encontrei há anos nas palavras de um cantautor esquecido e que, com algumas alterações idiossincráticas, tomei por minhas,

Porque sempre amei tudo de mais. Sou eu, sebastianista, crente no quinto dos impérios, longe do mundo e dos impropérios e, nas horas do silêncio, um ser quase. Quase-escritor, quase-poeta, quase-erudito, quase-amante, quase-amor, quase-alguém, quase-humano. Quase-Eu. Para lá do mundo.


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