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quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Outra arte

Dilúvio. Sim, foi um dilúvio aquela enxurrada de sentimentos que com a chuvada deixei correr. Talvez por isso a ausência destes tempos e tanto o silêncio que se faz sentir. Apesar de tudo, lembro-me constantemente de ti, leitor atento e sem rosto que, a espaços, me procuras. Esquecido, deixei-me diluir nas águas do dilúvio dessa Barcelona alagada.
Era noite e sentia calor, não sei se pela temperatura, se pela estranha sensação de liberdade que me invadia. Sem mais nem aviso prévio, uma tromba de água arrasa a cidade. Todos se escondem e abrigam, como se temessem seguir com as águas. Deixei-me ficar com aquela liberdade e percorri à chuva as ruas vazias de gente. Como uma miúdo traquina passei por cima das poças, corri pelas ruas fora, ri alto. Sentia essa espontânea alegria que só raramente se experimenta. Essa alegria das almas simples, das que encontram num sorriso todo o conforto do mundo. Sorriso só o meu, mas pude imaginar outros, outro.
Esbarrei, depois de andar à deriva sem saber muito bem por onde, com esse porto sagrado de Santa Maria del Mar. Tive vontade de entrar e escutar, na escuridão daquelas paredes, esse tal sorriso que apenas imagino.
Regressei no dia seguinte. Daquele dilúvio, onde me senti menino, apenas restava a alma lavada e a tranquilidade das horas de bonança. Entrei, sentei-me. Por momentos julguei estar no ponto mais fixo do universo, a partir do qual tudo gira. Não resisti e, no aconchego das luzes das velas, do calor do espaço e da música de fundo, escrevi um outro quase-poema, para ti, de quem apenas imagino o sorriso.

Como te queria abraçar.
Voar para o nada que descubro
Ser tudo o que sempre procuro
E onde esperando estarás
E olhando me verás
Dizer o sim que não falo
Palavra que pelo olhar não calo.
Deixarei então o mundo de parte
E construirei contigo essa arte
De amar...


1 comentário:

Anónimo disse...

hummmm mas que giru poema!!!