Vemo-nos por aí...

quarta-feira, 14 de maio de 2008

(Centésimo) Desabafo

Os desabafos vão-se sucedendo, num tempo que se quer cada vez mais curto. Muitas vezes, em longos tempos de ausência, sobressaem as miragens longínquas de oásis perdidos. Nesses lugares de perpétua Primavera, onde cessa a busca eterna, a certeza de te encontrar. 
Caminho apressado para esse lugar. A cada passada findam os meses de hibernação, mas à aproximação da vista tudo se transforma em areia. Agora, nem oásis, nem gruta de hibernação. Agora a dor do degelo precipitado, incauto juízo dos que ainda te procuram por aí. 
Sentado nesse chão deserto, continuo a escutar-te. Quero acreditar que te ouço, que me chamas. Quero acreditar que és tu. Hesito. Receio as alucinações do cansaço, o esgotamento dos sentidos que, pela tua ausência, te reproduzem iteradamente. Por enquanto, à laia de quem nada procura, continuo a busca sem arrepiar caminho, seguindo a melodia que espero cantar em dueto. 

Escuto,
perdido,
o som distante que me atrai.

Escuto sonhos me chamam
para esse lugar ideal,
terra firme,
irracional,
mundo novo dos que amam.

Escuto tempos que não vêm,
longas horas sem fim,
onde invento dia-a-dia
novos céus, tantas luas
outros retratos de mim.

Nessa loucura sã
de sons que não se calam,
escondo a minha surdez
daqueles que me falam.
Tentativa vã!

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