Vemo-nos por aí...

segunda-feira, 3 de março de 2008

Mão vazia...

Numa corrida à biblioteca, entre as ocupações quotidianas e uma escapadinha para desanuviar, dá-se o encontro fortuito com a improbabilidade.
Já não o via há uns meses, talvez anos. Reconhecemo-nos no imediato. Nunca fomos amigos, mas sempre lhe notei uma reverência de que nunca me achei merecedor. Cumprimentou-me efusivamente. Retribui com a cordialidade que as pessoas sempre me merecem, mas com deferência que a distância justifica.
Falamos um pouco, procurando encontrar assunto nas parcas lembranças comuns que ainda mantemos. Recordamos algumas histórias, perguntamos por um ou outro colega. Às tantas parou. Olhou-me fixamente. Agora recordo como era observador. Perscrutou-me e disse, na sua voz rouca, que eu estava igual. Sorrio, como sempre faço nestas ocasiões, e pergunto-lhe porquê? Disse-me, como se desse um conselho sábio, que eu continuava com aquela mania de andar com um livro e o porta-lápis na mão, como se não soubesse o que fazer com as mãos vazias. Sorrio novamente, sem comentar.
Despedimo-nos. Passamos os contactos que nunca trocaremos, em juras recíprocas de nos voltarmos a encontrar. Ninguém sabe muito bem para quê, se nem no tempo de escola o fazíamos. Enfim, mostramos maturidade e seguimos os guiões sociais prescritos, sabe Deus por quem, para estas ocasiões.
Regresso à minha corrida. Quando paro, enfim, pouso o livro e o porta-lápis na secretária. Recordo a observação e, distraído, consinto um suspiro. Olho para o livro. Passo-lhe os dedos como se o acarinhasse. Deixá-lo-ía com todo o gosto em cima da mesa. Deixa-lo-ía sim, se tivesse alguém a quem dar a mão. Por ora, continuo a passear-te, para não sentir a mão vazia…

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