Vemo-nos por aí...

domingo, 2 de março de 2008

pequenino

Coração pequenino. Como sinto o coração pequenino. Pequenino, tão pequenino. Tolhido no pobre universo linguístico em que facilmente que perco, nem na escrita encontro o reduto sereno que muitas vezes me dopa. Vagueia o olhar, cruzam-se os braços, cai a cabeça na ombreira da janela, solta-se um suspiro, tão ténue que se confunde com um último sopro de vida. Talvez seja.
Talvez seja o último sopro de vida do que nunca nascendo nem por isso dói ou marca menos. A última esperança num sopro que mais se parece com Bóreas, esse vento agreste e solitário do norte.
Procuro esquecer, crendo que estou errado e que é apenas algum cansaço de desamor que me gela os sentidos. Saio à varanda, estico bem o rosto esperando sentir Zéfiro anunciando a primavera. Como demora a primavera que me libertará finalmente do meu cárcere voluntário para novamente me prender, a ti raio quente de luar.
Demora e vai ficando cada vez mais distante. Percebi-o na força daqueles olhares cruzados em que, discretamente, fui reparando. Permaneci no meu escudo de tranquilidade e indiferença, couraça já velha e experiente de que poucas vezes me desfaço. Que ousadia a minha ter achado alguma vez que podia ser Quixote e lutar contra gigantes. Sim, porque o que se deparava à minha frente, nos sorrisos cúmplices e na intimidade partilhada, era o mais gigante dos sentimentos. Vivo, muito vivo. Ah! Coração pequenino o meu…


Que amor nao me engana
Com a sua brandura
Se da antiga chama
Mal vive a amargura
Duma mancha negra
Duma pedra fria
Que amor nao se entrega
Na noite vazia?
E as vozes embarcam
Num silêncio aflito
Quanto mais se apartam
Mais se ouve o seu grito
Muito à flor das àguas
Noite marinheira

Vem devagarinho
Para a minha beira
Em novas coutadas
Junta de uma hera
Nascem flores vermelhas
Pela Primavera
Assim tu souberas
Irma cotovia
Dizer-me se esperas
Pelo nascer do dia