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terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Torre de Narciso

Puras contradições. Se de manhã riu, de tarde medito e de noite perco-me em 'Para-lá-do-mundo'. Nesse espaço onde pouco se pode encontrar, onde pouco se pode esperar. Nada parece acontecer, nem uma pequena brisa anuncia a mudança sempre desejada. Tenho muitas vezes uma terrível vontade de desistir, de largar tudo, de me fechar na torre de Narciso do Ary. Mas resisto. Acredito que o mundo ainda gira…

Ao sol, ao vento, à música, levanto
Esta voz que não tenho. A Deus imponho
A obrigação de me escutar o canto
E entender o que digo e o que sonho.

A mim me desafio. Aos outros ponho
A condição de me odiarem tanto
Que não descubram nunca o que suponho
O meu secreto e decisivo encanto.

Contra o que sou me guardo e quando oiço
Falar do que pareço, posso então
Encher o peito de desprezo e riso.

Pois só eu me conheço e só eu posso
Subir até àquela solidão
Onde me incenso, amo e realizo
(Ary dos Santos, Da Minha Torre de Narciso)

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