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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Montanha de ilusão

Miras a paisagem. Vês ao longe a montanha. O entusiasmo do primeiro momento foi-se na primeira tentativa frustrada de escalar. Olhas para aquele cume distante e inacessível e sentes-te pequenino. Ficas ali sentado, no sopé, a chorar. Nada mais te parece possível. De um lado a grande montanha que te escapa e do outro a planície onde não és nada. Tudo parece acabado. Vista de longe a montanha sobressai naquela paisagem deserta. Fixaste-a e sorriste para ela. Com a inocência que quem pensa ser ali o paraíso, correste para lá. E agora, triste, choras sozinho a ilusão que ainda há pouco te fazia sorrir. Nada mais te parece possível. Pareces condenado à monótona planície que se estende de um dos lados. Um dia levantarás o rosto, enxugarás as lágrimas, e erguer-te-ás vacilante. Contornarás o sopé da montanha que te irá parecer nessa altura muito mais pequeno. No outro lado, uma nova montanha. No início da escalada, à tua espera, eternamente à tua espera, estarei eu. Compreenderás então, no olhar cúmplice que trocaremos, que o paraíso não é a montanha. De mãos dadas, naquela nova escalada, construiremos esse paraíso. Haverá altos e baixos, como em todas em montanhas, mas mesmo na noite escura o sol não morrerá, porque em ti o verão é eterno…


Se te comparo a um dia de verão
És por certo mais belo e mais ameno
O vento espalha as folhas pelo chão
E o tempo do verão é bem pequeno.

Ás vezes brilha o Sol em demasia
Outras vezes desmaia com frieza;
O que é belo declina num só dia,
Na terna mutação da natureza.

Mas em ti o verão será eterno,
E a beleza que tens não perderás;
Nem chegarás da morte ao triste Inverno:

Nestas linhas com o tempo crescerás.
E enquanto nesta terra houver um ser,
Meus versos vivos te farão viver.

(William Shakespeare)

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