Vemo-nos por aí...

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Quero crer que tudo seja eterno num segundo

A indolência das horas banais é pontuada, aqui e ali, por alguns momentos de livre contentamento. Por esse sorriso rasgado de quem fica encostado atrás da porta, olhando perdidamente para amanhã. Por essa vontade imensa de ir à janela e gritar, de dizer bom dia a toda a gente na rua, de cumprimentar efusivamente todos os que passam e dizer, mesmo contra a mais elementar evidência, que está um dia lindíssimo, fantástico. Por essa estúpida sensação de que os passarinhos já regressaram e de que a Primavera se começa enfim a fazer. Pelo miar dos gatos que pacientemente tento conquistar, mas que no último momento sempre me escapam.
Nesses pequenos momentos do mais puro e genuíno sentimento, o mundo deixa de ser estranho, a lua deixa de me fazer chorar, a noite torna-se muito mais cúmplice e no calor do sol sinto o aconchego que sempre procuro. Em breves instantes, criaturas fantásticas, seres alados, percorrem os ares e se tornam comparsas daquele meu inculpável brilhozinho nos olhos.
Quero acreditar que a Primavera voltou. Quero acreditar que sei o caminho. Quero acreditar que vejo as certezas de que dantes duvidei. Quero acreditar que um nós é possível e que havendo um nós exigirá um eu e um tu completos e complementares.
Lá fundo, receio-o bem, talvez não seja este o caminho. Talvez a prudência que sempre me acompanhou não esteja de todo errada. Talvez a ligeireza que sinto nos últimos tempos, e que ainda me é nova e estranha, seja apenas o desejo forte de te encontrar.
Na lucidez da minha formalidade sempre encontrei a protecção dos mundos. Também nessa lucidez senti passar ao lado caminhos possíveis. Porque muitas vezes hesito e fraquejo no último momento, diz-me tu, amigo poeta Régio, se no fundo do teu cântico negro, vou ou não por aí…
(É das letras mais bonitas que se pode escrever a alguém. O género, esse, é apenas um pormenor.)

Sem comentários: