Vemo-nos por aí...

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Chutando pedrinhas

Na indolência das calmas horas nocturnas, paro um pouco e escuto. Ouço o mundo respirar, sinto a natureza transpirar. Todos dormem. Toda a aldeia se acomodou e, no silêncio da rua, a única digna desse nome, já não se ouve sequer o ruído de fundo dos televisores. Tudo se recolheu e, lentamente, a natureza vive. A lua difusa deixa escapar apenas alguns raios tímidos. Naquele silêncio acolhedor, caminho devagar para não despertar ninguém com o bater do coração. Olho enternecido para aqueles campos negros onde reflectem os tímidos raios de luar. Sento-me numa pedra, aconchego o casaco e encolho-me sobre mim.
Sinto o mundo girar. Por momentos, transponho as minhas fronteiras e vejo-me ao longe. Ali sentado, testemunha única da noite, pareço alheado. Aquele pequeno sorriso fácil que muitas vezes desbarato, cobre-me outra vez o rosto. Lá do alto, a observar-me, deixo escapar um suspiro cúmplice. Bato-me no ombro e faço de mim para mim um discreto aceno de cabeça. Levanto-me e caminho agora comigo por essa rua. Há algum tempo que não o fazia.
Cruzamos algumas palavras, trocamos algumas confidências. A passo lento vamos chutando alternadamente uma pedrinha, indiferentes ao nada que se passa. A conversa corre fluida. Evitamos prudentemente nomes proibidos, porque esta noite, na rua única da aldeia, a vida é simples e o mundo uma estradinha de paralelos onde de quando em quando nasce uma ervinha.
Sentados com os braços sobre os ombros, como fazíamos quando éramos miúdos e vínhamos da escola, ficamos a ver as mesmas estrelas e deixamos a música tocar…

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